A polarização política que tomou conta do mundo também chegou ao universo do rock. Entre fãs e curiosos, uma pergunta continua surgindo: afinal, a banda Ramones (1974–1996) tinha alguma orientação ideológica clara?

A questão parece simples, mas não é. Os integrantes originais — Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy — já faleceram, e isso impede qualquer esclarecimento definitivo. Mesmo assim, existem pistas sobre como cada um pensava. E a primeira coisa que precisa ser dita é: não existe uma única posição política que represente toda a banda.

O erro de tentar rotular os Ramones como um bloco único

A banda era musicalmente coesa, mas politicamente não.
Ramones não era uma banda de esquerda, não era de direita e muito menos um grupo politicamente alinhado. Cada integrante possuía convicções próprias — e nem sempre amigáveis entre si.

Nos bastidores, opiniões divergiam tanto quanto seus temperamentos.

Johnny Ramone: conservadorismo explícito

Marky Ramone, segundo baterista da banda, revelou diversas vezes que Johnny Ramone tinha posições fortes e controversas. Ele teria feito comentários ofensivos a minorias, como chamar negros de “macacos”, latinos de “cucarachos” e asiáticos de “chineses de m…”.

Além disso, Johnny se posicionava contra benefícios sociais para pobres e imigrantes.

No cenário político norte-americano, Johnny assumia sem rodeios:
era republicano,
admirava Ronald Reagan,
defendia pautas tradicionais da direita conservadora.

Em sua autobiografia, esse posicionamento aparece de forma clara.
Para quem busca uma resposta objetiva, o integrante Johnny Ramone era, sim, de direita — e sem ambiguidades.

Mas… ele não mandava em tudo.

Embora influenciasse muito a estética e a direção musical, Johnny não era o principal responsável pelas letras — função dividida entre Joey e Dee Dee.

Joey Ramone e Dee Dee: outras perspectivas

Joey Ramone tinha um perfil bem diferente do de Johnny. Era democrata, crítico ao militarismo e a posturas conservadoras. Não era um militante partidário, mas expressava valores mais próximos da esquerda moderada.

Dee Dee Ramone, apesar de ser um dos maiores letristas da banda, vivia numa realidade totalmente à parte. Lutava contra um vício severo em heroína, o que prejudicava sua relação com política, sociedade e até consigo mesmo. Dee Dee não demonstrava grande interesse em debates ideológicos.

Tommy Ramone, por sua vez, mantinha distância desse tipo de discussão.

Resultado?
Dois membros mais ativos politicamente estavam em lados opostos — e isso explica por que rotular “a banda” é praticamente impossível.

E as letras? Elas revelam alguma posição política?

A resposta curta: não.

A maior parte das letras dos Ramones é polissêmica, subjetiva, centrada em experiências pessoais, escapismo, humor ácido e sentimentos humanos — não em política.

Exemplo 1 – “Poison Heart”
A letra expressa desencanto com o mundo, solidão e angústia, num tom poético e universal.

Exemplo 2 – “I Believe in Miracles”
Aqui, o sentimento é oposto: fala de força, sobrevivência e esperança — quase um hino de superação.

Nenhuma dessas composições demonstra apoio explícito a partidos, movimentos sociais ou causas políticas. Isso está muito longe do estilo panfletário de artistas que usam sua música como arma ideológica.

Os Ramones escolheram outro caminho: não misturar a banda com a política partidária, deixando que cada integrante carregasse suas próprias convicções.

Conclusão: a ideologia dos Ramones é individual, não coletiva

O debate sobre se os Ramones eram “de direita” ou “de esquerda” não leva a lugar nenhum, porque a pergunta em si é construída de forma equivocada.

A verdade é:

  • Johnny tinha posições fortemente conservadoras.
  • Joey era mais moderado e inclinado à esquerda.
  • Dee Dee não se envolvia.
  • Tommy não participava das discussões.

E as letras?
São abertas, plurais, introspectivas — nunca uma plataforma política.

Em resumo:
👉 Ramones não pode ser rotulada politicamente como banda.
👉 O que existia eram indivíduos com opiniões diferentes dividindo o mesmo palco.

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